arco e flecha









Apanhou bagas vermelhas, outras de zimbro, sementes de girassol, algumas avelãs. Ao longe a voz da mãe chamava e ela já não reconhecia a mãe, a voz e a distância entre as três. Num canto escondido do jardim há sempre um animal ferido à nossa espera.
E para espantar a tarde escura, fez um colar de bagas venenosas presas num fio fino de tecer insónias e coseu-as, devagar, enquanto a chuva acordava as rãs. 













9 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA



e o animal ferido estrebuchava
num sono fecundo de bagas
que às rãs as acordava



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Outubro de 2016

Graça Pires disse...

A noite por um fio. A chuva e as rãs deslizando em surdina até ao fundo do jardim. A mãe à espera de ter outra voz...
Muito belo o teu texto, Manuela.
Um beijo.

Majo Dutra disse...

Imaginado com singular criatividade...
Beijinho, Manuela.
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Luis Alves da Costa disse...

Um dia ficam estas coisas escritas, oclusas, com a única chave da sua verdade nas pegadas do olhar. Nem todos os dias são faustos, e deve o espírito de amazona tender o arco e disparar cores de zimbro pelas flechas do ar.
Tudo é fauno
e cítara

. intemporal . disse...

.

.

. belíssimo . e repleto de significado .

.

. íssimo . de um "animal ferido" . :) .

.

.

Beatriz disse...

Foi fácil me transportar a este jardim, olhando os pequenos animais se escondendo da chuva... dias brandos assim - preciso deles!!!

Beijinhos Manuela

Bia <º(((<

ϩєrᵱєn†inΔ disse...

Pater noster qui es in cælis,
sanctificetur nomen tuum,
adveniat regnum tuum,
fiat voluntas tua,
sicut in cælo et in terra.
Panem nostrum quotidianum
da nobis hodie
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris,
et ne nos inducas in tentationem,
sed libera nos a malo.
Amen!

Agostinho disse...

Quando as circunstâncias se armam de arco e flecha há porventura uma personagem supranumeraria que vai se diluindo na memória. Por isso, para isso, os preparativos prévios da luta - para a sobrevivência e a morte. Depois, é uma questão se sorte.

Andei perdido no veneno das bagas mas puseram-me a mão no coração. E aqui estou quase em bom estado de conservação sustentado a zimbros e avelãs.

Bj, Manuela.

Rita Freitas disse...

Seria um jardim encantado, não fossem as insónias :)

Bjs e bom fim de semana